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Fotos: Murillo Di Maione |
Apesar das inúmeras viagens e passeios programados pela minha antiga escola primária, participei de apenas um: uma visita ao Zoológico. A professora nos entregou um papel com o pedido de autorização para os pais com uma semana de antecedência e durante todos esses dias a visita tornou-se o principal assunto do recreio. Parte dos alunos contando feitos heroicos da última visita com parentes (como quando pularam dentro do cercado do leão para apanhar um brinquedo), ou simplesmente aguçando a curiosidade da outra parcela dos estudantes que ainda não conheciam os animais do parque (na qual eu estava incluso).
No dia da visita, eu e todas as crianças da escola estávamos preparadas para aquele pequeno safári. Logo estava na escola junto com uma turba de crianças ensandecidas para conhecer um outro mundo. As promessas eram muitas e a maioria não acreditava nas descrições de colegas sobre determinados animais – como uma cobra gigante de duas cabeças que ficava escondida dentro do vidro dos répteis. Partimos. E durante o curto percurso éramos postas a par de como proceder em todo tipo de eventualidade (ao menos as mais prováveis para crianças entre cinco e oito anos de idade dentro de um parque).
Logo na entrada avistamos o primeiro animal. Um avestruz observando curiosamente aquela manada de crianças de uniforme azul. Enquanto o guia descrevia as características da espécie, a maioria dos alunos zombava da possibilidade daquela galinha supervitaminada ser uma grande velocista, quiçá com um homem na carcunda. Naquele momento não discutíamos qual pai tinha o carro mais veloz ou de quem era melhor vídeogame, apenas falávamos sobre esse mundo que existe além das nossas casa e que as páginas dos livros descreviam de forma tão insossa.
Apesar dos nossos pequenos passos, não sei precisar de quantas formas aquele passeio nos trouxe mais perto daquilo que chamamos de “ser homens”. Talvez o senso de responsabilidade de manter o grupo unido, ou o rubor de servir de apoio quando algumas das meninas não tinham coragem de encarar as cobras ou jacarés. A mais importante ainda poderia ser a descoberta de que existe um mundo onde o verdadeiro tom é o vermelho da terra. Infelizmente sei que para a maioria das crianças de hoje esse mundo só é visível por meio da internet. Não há cheiros, toques e a vista só é aquela permitida pela resolução do vídeo.
O Zoológico está fechado. E, como na maioria das vezes em que algo realmente bom fecha as portas, a administração pública é a grande culpada. Aquele parque era a única ligação sensorial entre Goiânia e o resto do mundo. O zoo também era a principal fonte de inspiração para gerações de escritores, historiadores, pesquisadores, que pela primeira vez sentiram, num pequeno ponto do Centro-Oeste brasileiro, que faziam parte de algo maior.
Um comentário:
Quando vim de Belô pra Goiânia morei numa pensão a poucas quadras do Zoológico. Lá o paraíso que o menino Sinésio ia se refugiar. O Zoológico está fechado por incompetência do poder público. O menino, que ainda mora no homem que o Sinésio se tornou, não tem mais como ir ao Zoológico.
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