sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Os cadáveres do humanismo


O poeta Bruno Tolentino disse certa vez que só entraria em uma universidade brasileira fantasiado de cachorro. Um notório exagero, visto que o instinto animal o privaria de viver em ambiente tão insalubre. A academia deixou de ser o lugar para a disseminação de conhecimento e debate para tornar-se palanque de panfletagem barata. O rigor científico foi substituído pelo senso comum e a fé num humanismo redentor. O resultado dessa mistura de absurdos não é registrado apenas pelos números pífios do Enade, no qual 33% das universidades ficaram abaixo da média, mas principalmente nos danos causados aos estudantes nas salas de aula.
Por esse motivo parto do individual para o todo. Eu curso Direito numa grande universidade privada. Na última aula de Ciências Políticas a professora bradou para cerca de 60 alunos: “A Igreja Católica matou milhares durante a Santa Inquisição”. Ponto. Fontes? Documentação? Nada além de preconceito contra a religião embasado na autoridade moral do esquerdismo capenga. Iniciei o debate em linhas gerais para logo em seguida ser cortado: “Você precisa estudar mais”. Uma doce ironia no seio universitário.
Não é espantoso que uma professora de uma grande instituição de ensino superior desconheça a obra de Agostino Borromeo, um relatório de 800 páginas que inclui todas as atas oficiais do simpósio internacional realizado em 1998 pela comissão teológico-histórica do Comitê do Jubileu, constatando que os tribunais eclesiásticos foram muito mais indulgentes do que seus colegas civis. Na verdade, é bem natural, afinal, ele destrói mitos propagados nos últimos anos por militantes anticatólicos. Segundo o levantamento, dos 125 mil processos, a Inquisição espanhola condenou à morte 59 bruxas. Na Itália foram 36 e em Portugal, 4. Nos tribunais civis, o número chegou a 50 mil pessoas condenadas à fogueira em um total de 100 mil processos realizados durante a Idade Média na Europa.
Mesmo que fosse apenas uma condenação, seria execrável. Mas a realidade por trás do politicamente correto é que a história da humanidade é baseada em derramamento de sangue e em vários momentos as religiões foram responsáveis pelas mortes, bem como os progressistas. Existe apologia à violência tanto na Bíblia quanto no Corão, guias da maioria da população mundial. O mesmo ocorria antes da ascensão do monoteísmo. Homossexuais e adúlteras eram apedrejados até a morte, enquanto criminosos eram mutilados – e essas práticas permanecem em execução até hoje no Oriente Médio. Enquanto isso, países como a China aplicam a pena de morte indiscriminadamente, chegando a cobrar dos familiares a bala usada para despachar o falecido. Em Cuba, a diversidade sexual é punida pelos comunistas com prisões e mortes. Enfim, são muitos os exemplos de barbárie em pleno século XXI.
A visão humanista acadêmica trata o número de mortes na Idade Média como o retrato da obscuridade do período, sem atentar que é uma constante na história. A época imediatamente posterior também padeceu de violência inominável e é tomada como exemplo de superação dos mitos “nefastos” impostos pela religião. O Iluminismo se diferenciava em pouco da crueldade aplicada pela Inquisição. A principal é que os acusados nos tribunais religiosos tinham o direito de defesa preservado (inclusive, o período é o berço de muitos dos direitos garantidos aos criminosos atuais). Na França e em outros países banhados pela revolução intelectual promovida por Rousseau e seus amigos, os nobres eram simplesmente decapitados e pronto: um novo período de glória se iniciava.
A academia acredita que ignorando a religião o conhecimento virá naturalmente pelo método científico. O que escapa aos professores, como a senhora que citei acima, foi bem exemplificado pelo filósofo britânico John Gray, no livro "Cachorros de Palha" (Record, 255 pág.): é preciso colocar à prova nossa crença no humanismo, assim como também colocamos a religião. Acima de tudo, é necessário entender o processo histórico sem preconceitos. Retirando a paixão do debate, a Idade Média ofereceu muito mais à humanidade do que corpos carbonizados. Isso nós conseguimos hoje, mesmo com todo o progressismo das universidades.
Diogo Luz é jornalista.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Artigo no blog do senador Demóstenes


O lambari petista
Diogo Luz
Na última década, 31 milhões de pessoas entraram na classe média, formando um contingente de 95 milhões de brasileiros com renda familiar de R$ 1 mil a R$ 4 mil por mês. A notícia é tão boa que o governo federal praticamente passou os últimos anos comemorando, sem fazer nada mais para reduzir a dependência que essa enorme fatia da população tem do estado. O trabalhador aprendeu a pescar, mas ainda é obrigado a bancar o dispendioso pesque-pague estatal.
Não entro no mérito da questão sobre a paternidade da espiral econômica opulenta da última década – todos sabem que foi graças às políticas econômicas de FHC. Ainda assim, não deixa de ser instigante que o debate sobre a estabilidade financeira permaneça na barreira da casa própria. É ainda mais intrigante entender por que pagamos o dobro do valor real de uma residência em financiamentos subsidiados pelo governo, enquanto o Brasil tem um dos maiores territórios desocupados do mundo, com matéria-prima abundante para a construção civil. Mas esse simplesmente não é um tópico muito popular em Brasília.
Passemos, então, a assuntos menos embaraçosos. A fila do SUS, por exemplo. A nova classe média alardeada pelo ex-presidente Lula e a gerentona Dilma Rousseff possui renda familiar suficiente para comprar um carro popular a longas e suadas prestações ou levar os filhos no Mc Donald´s no final de semana, mas é insuficiente para pagar por um plano de saúde decente. Na primeira febre do filho na madrugada, lá se vão os pais para a porta dos postos de saúde rezando para encontrar o médico ou os equipamentos em perfeitas condições. Os dois funcionando em harmonia são um sonho grandioso demais para ser cogitado.
Embora nem mesmo o governo negue o fiasco que é a saúde pública (preferem simplesmente adornar o caos com jargões militantes de cartilha), não existem linhas de financiamento específicos para procedimentos cirúrgicos. A lógica é simples: mesmo com potencial para bancar o próprio tratamento, o respeitável membro da classe média é obrigado a empanturrar ainda mais a fila do atendimento público porque ninguém pensou em emprestar o dinheiro para ele. Mesmo que o carro popular seja uma das garantias de pagamento.
A educação passa pelo mesmo problema. É praticamente impossível para os emergentes pagar escolas particulares para os filhos, preferindo poupar para a universidade. Então, as crianças são enviadas para colégios estaduais, onde o nível de ensino é baixo por muitas outras razões além dos salários dos professores. As chances de entrar numa universidade federal são mínimas, mas tudo bem: basta fazer o Enem e responder uma ou duas questões sobre as tirinhas do Hagar e dar o primeiro passo para tornar-se um profissional de sucesso de nível superior.
E aí está outra propaganda forte do governo federal: nunca tantos jovens entraram na universidade. Nenhuma palavra sobre o que fazem depois de cruzar a soleira da porta. Ficariam envergonhados se expusessem no horário nobre o resultado pífio da nossa pesquisa acadêmica em comparação com outros países que estão em fase de industrialização. O pouco do resultado positivo está nas federais, onde os filhos da classe média alta são maioria. Ainda assim, não há muito do que se orgulhar.
O estado não pretende emancipar os 95 milhões de brasileiros da classe média. O paternalismo público funciona da mesma forma para essa parcela da população como para os 50 milhões de beneficiários do Bolsa Família: não há porta de saída. O empreendedorismo é tosado pela opressora carga de impostos e burocracia, o conhecimento acadêmico é moldado pelo manual ideológico do mandatário da vez e 145 milhões de pessoas ficam eternamente dependentes de um único e supremo líder. Mas ainda podemos comprar um carro e comer fast-food. Desde que o veículo não venha da Ásia e a comida não seja transgênica.
Diogo Luz é jornalista.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Nas noites de terça

As mãos percorriam minha barba enquanto um olhar minucioso avaliava meus lábios e olhos. A boca dela se retorceu por um segundo enquanto media o tamanho e o formato das orelhas, ampliando ao máximo o suspense da crítica. Prendi a respiração para ouvir veredito: –“É... até que você é bonitinho”. O resultado não poderia ser melhor, admito. Confesso ainda que o fato de ambos estarmos nus naquela cama surtiu um efeito positivo sobre a jurada – mas nada que possa ser configurado como compra de votos, fiquem tranquilos.

Nos deixamos ficar ali, espreguiçados, apenas relaxando sob o ar condicionado por alguns minutos. Tudo parecia tranqüilo e até mesmo sugeri que passássemos a noite juntos. Ela voltou a aninhar-se no meu peito a acariciar minha barba. Ergueu a outra mão e fez festa nos meus cabelos. Talvez estivesse mesmo arrumando um penteado ou algo assim. Depois de terminar os ajustes, me encarou nos olhos com uma sinceridade esmagadora. “ – Você precisa de alguém para cuidar de você”, e me beijou nos lábios. Logo em seguida apanhou a toalha e foi para o chuveiro.

Ficamos a sós. Eu e as minhas imagens refletidas em centenas de espelhos espalhados pelo quarto. Acendi um cigarro e comecei a pensar naquela frase. Não nos conhecemos há muito tempo e, para falar a verdade, estou com ela mais pela carência de uma rejeição recente. Não me acusem, a garota também não é apenas bondade. Mas enfim, formamos um casal de apoio mútuo e está bom assim. Apesar de tudo isso, a frase martelava insistentemente na minha cabeça. De súbito vi que estava na merda. Um conselho desses (“você precisa de alguém para cuidar de você”) só é dado para alguém que vai de mal a pior.

Ela voltou a deitar-se ao meu lado, desta vez com os cabelos molhados. As gotas espalhavam-se entre nossos corpos e encharcavam todo o colchão. Não achei ruim, pelo menos refrescava ainda mais aquela noite infernal – o ar condicionado não era dos melhores, afinal de contas. Acendemos cigarros e ficamos parados, tentando prolongar ao máximo aqueles minutos de prazer. Desisti de tentar compreender o porquê daquele conselho. A verdade é que eu realmente preciso de alguém para cuidar de mim – e ela sabia que não seria capaz de cumprir a tarefa, ou simplesmente não se importa.

Os fios rudes

A vantagem de trabalhar viajando constantemente é o tempo disponível para tirar um cochilo entre uma parada e outra. O desconforto, o sacolejo incessante provocado pela estrada cheia de buracos e as constantes cabeçadas no vidro da janela – e o conseqüente torcicolo de cada dia – não são nada comparados ao solitário prazer de puxar uma palha no meio da tarde. No meu caso, valorizo ainda mais esses momentos de ócio porque consigo, de certa forma, conduzir meus pensamentos nesse estado de torpor. Uma espécie de sonho lúcido.

A ideia é ridícula, mas é a mais pura verdade. Basta sentar no banco e me aconchegar para enfrentar 500 km de estrada e me entrego inteiramente ao sono. As imagens começam a surgir logo depois. Na última viagem, por exemplo, enquanto meus companheiros deliciavam-se com as tonalidades do meu ronco, me vi em algum lugar campestre, uma casa aconchegante – e uma filha. O enredo não interessa, mas a sensação de caminhar ao lado daquela criança é indescritível.

Não foi o meu primeiro encontro com a menina, minha filha. Nos vimos em outros lugares, algumas vezes urbanos, caóticos, paradisíacos; mas sempre acompanhados, nutrindo uma sensação de confiança mútua. Muitas vezes desejei não acordar. Não queria abandoná-la em algum ponto da minha mente, desamparada. Acordar significa, acima de qualquer coisa, que ela deixa de existir. Talvez tudo isso seja um pouco de carência, eu sei. No final, sempre acreditei que o único amor incondicional é o paternal.

Uma coisa que sempre chama minha atenção nos meus sonhos é que a minha filha gosta da minha barba. Quando a seguro em meus braços, a sua mãozinha sempre procura os fios emaranhados e rudes no meu rosto. A mesma mania que tenho quando estou sozinho: acariciar a barba. Certa vez uma mulher me flagrou fazendo isso e disse que era sinal de carência – não a contestei. Ela não era próxima, tampouco tinha minha simpatia, mas aquela senhora fez algo que nunca vou esquecer. Ela me puxou pelos braços e me deu um abraço de uns cinco minutos. E em contato com aquele corpo tão desprezado, nunca fui tão querido.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

“Blues and Gospel Train"

Luzes da China



Neste mês os habitantes de Poznan, na Polônia, quebraram o recorde mundial e lançaram oito mil lanternas chinesas nos céus da cidade para marcar a noite mais curta do ano. No vídeo acima é possível ver alguns minutos do espetáculo.

Não sei como foi organizado o evento e quais foram as recomendações do corpo de bombeiros e da polícia, mas levanta dúvidas sobre a segurança de algo tão grandioso. A música ao fundo só acrescenta à beleza da cena.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O copeiro e o marajá

A hora do cigarro costuma ser uma das mais interessantes em Brasília. Longe dos microfones e das câmeras da imprensa, os funcionários falam sem constrangimento dos bastidores do poder federal - e, principalmente, das suas gafes. Um terceirizado relatou, entre uma baforada e outra, que a visita do empresário indiano Hajiv Mehrotra, presidente da Vihaan Networks Limited, à Comissão de Ciência e Tecnologia contou com uma pequena falha técnica: faltou intérprete.

O presidente da CCT, Eduardo Braga, estava com tudo preparado pra iniciar a audiência pública, quando o copeiro teve problemas para servir os convidados estrangeiros. "Não estou entendendo porra nenhuma", disse o funcionário para Hajiv. Braga imediatamente solicitou uma tradutora, enquanto os demais senadores se divertiam com a cena. Logo após a chegada da profissional, o copeiro descobriu que o empresário indiano queria apenas café. "Por que não fez um sinal então, ué?", ainda questionou o copeiro. O episódio passou batido na imprensa nacional.




segunda-feira, 27 de junho de 2011

Além do Meia Ponte

O mundo não é suficiente para alguns tipos de pessoas. É preciso mais: uma divindade, alienígenas, gnomos, qualquer coisa para que foquem e ignorem tudo o mais que está a sua volta.




















Já eu, só preciso de férias.

New Yorker para iPad


A tecnologia é, de certa forma, redentora. São inúmeras as possibilidades de conseguir algo realmente bom com um pouco de paciência. Depois de alguns anos buscando alternativas para ler a The New Yorker sem precisar pagar cerca de R$ 25 pilas por edição, finalmente consegui assinar a revista pelo IPad. Tenho o que quero e por um preço justo. Compartilho com vocês três cartoons das duas últimas edições. Genial.




















quarta-feira, 4 de maio de 2011

A Marca de Cain



Algum tempo atrás postei aqui no blog um comentário sobre o livro “Russian Criminal Tattoos”, que mostra a vida nas prisões na Rússia pós-comunismo. Acredito que a publicação ainda não tenha tradução para o português, mas já conta com documentário disponível no YouTube. O nome é "A Marca de Cain", em tradução livre. É simplesmente foda.

Dentro das celas as tatuagens tem o papel de classificar hierarquicamente os condenados, sendo impressas ou apagadas da pele do prisioneiro de acordo com a ascensão ou queda no prestígio junto a gangue – algumas vezes a força.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Chupa, James Cameron


Odeio filmes em 3D. Toda aquela coisa de imagens saltando da tela me faz passar mal. Fora que o filme perde na questão estética como um todo. O problema é que a maioria dos grandes filmes é lançado com a tecnologia e poucas salas estão apresentando a versão original. O anúncio da venda de óculos que transformam os terríveis filmes em três dimensões no velho e querido 2D pode ser a salvação para pessoas que são obrigados a ir assistir filmes com a tecnologia por insistência de acompanhantes. É um alento para a sanidade.

domingo, 10 de abril de 2011

Tune for Two - Curta


Tune for Two (2011) from alfa primo on Vimeo.

Storm, por Tim Minchin




Storm


Inner North London, top floor flat
All white walls, white carpet, white cat,
Rice Paper partitions
Modern art and ambition
The host’s a physician,
Lovely bloke, has his own practice
His girlfriend’s an actress
An old mate from home
And they’re always great fun.
So to dinner we’ve come. 

The 5th guest is an unknown,
The hosts have just thrown
Us together for a favour
because this girl’s just arrived from Australia
And has moved to North London
And she’s the sister of someone
Or has some connection.

As we make introductions
I’m struck by her beauty
She’s irrefutably fair
With dark eyes and dark hair
But as she sits
I admit I’m a little bit wary
because I notice the tip of the wing of a fairy
Tattooed on that popular area
Just above the derrière
And when she says “I’m Sagittarien”
I confess a pigeonhole starts to form
And is immediately filled with pigeon
When she says her name is Storm.

Chatter is initially bright and light hearted
But it’s not long before Storm gets started:
“You can’t know anything,
Knowledge is merely opinion”
She opines, over her Cabernet Sauvignon
Vis a vis
Some unhippily
Empirical comment by me

“Not a good start” I think
We’re only on pre-dinner drinks
And across the room, my wife
Widens her eyes
Silently begs me, Be Nice
A matrimonial warning
Not worth ignoring
So I resist the urge to ask Storm
Whether knowledge is so loose-weave
Of a morning
When deciding whether to leave
Her apartment by the front door
Or a window on the second floor.

The food is delicious and Storm,
Whilst avoiding all meat
Happily sits and eats
While the good doctor, slightly pissedly
Holds court on some anachronistic aspect of medical history
When Storm suddenly she insists
“But the human body is a mystery!
Science just falls in a hole
When it tries to explain the the nature of the soul.”

My hostess throws me a glance
She, like my wife, knows there’s a chance
That I’ll be off on one of my rants
But my lips are sealed.
I just want to enjoy my meal
And although Storm is starting to get my goat
I have no intention of rocking the boat,
Although it’s becoming a bit of a wrestle
Because - like her meteorological namesake -
Storm has no such concerns for our vessel:

“Pharmaceutical companies are the enemy
They promote drug dependency
At the cost of the natural remedies
That are all our bodies need
They are immoral and driven by greed.
Why take drugs
When herbs can solve it?
Why use chemicals
When homeopathic solvents
Can resolve it?
It’s time we all return-to-live
With natural medical alternatives.”

And try as hard as I like,
A small crack appears
In my diplomacy-dike.
“By definition”, I begin
“Alternative Medicine”, I continue
“Has either not been proved to work,
Or been proved not to work.
You know what they call “alternative medicine”
That’s been proved to work?
Medicine.”

“So you don’t believe
In ANY Natural remedies?”

“On the contrary actually:
Before we came to tea,
I took a natural remedy
Derived from the bark of a willow tree
A painkiller that’s virtually side-effect free
It’s got a weird name,
Darling, what was it again?
Masprin?
Basprin?
Asprin!
Which I paid about a buck for
Down at my local drugstore.

The debate briefly abates
As our hosts collects plates
but as they return with desserts
Storm pertly asserts,

“Shakespeare said it first:
There are more things in heaven and earth
Than exist in your philosophy…
Science is just how we’re trained to look at reality,
It can’t explain love or spirituality.
How does science explain psychics?
Auras; the afterlife; the power of prayer?”

I’m becoming aware
That I’m staring,
I’m like a rabbit suddenly trapped
In the blinding headlights of vacuous crap.
Maybe it’s the Hamlet she just misquothed
Or the eighth glass of wine I just quaffed
But my diplomacy dike groans
And the arsehole held back by its stones
Can be held back no more:

“Look , Storm, I don’t mean to bore you
But there’s no such thing as an aura!
Reading Auras is like reading minds
Or star-signs or tea-leaves or meridian lines
These people aren’t plying a skill,
They are either lying or mentally ill.
Same goes for those who claim to hear God’s demands
And Spiritual healers who think they have magic hands.

By the way,
Why is it OK
For people to pretend they can talk to the dead?
Is it not totally fucked in the head
Lying to some crying woman whose child has died
And telling her you’re in touch with the other side?
That’s just fundamentally sick
Do we need to clarify that there’s no such thing as a psychic?

What, are we fucking 2?
Do we actually think that Horton Heard a Who?
Do we still think that Santa brings us gifts?
That Michael Jackson hasn’t had facelifts?
Are we still so stunned by circus tricks
That we think that the dead would
Wanna talk to pricks
Like John Edwards?

Storm to her credit despite my derision
Keeps firing off clichés with startling precision
Like a sniper using bollocks for ammunition

“You’re so sure of your position
But you’re just closed-minded
I think you’ll find
Your faith in Science and Tests
Is just as blind
As the faith of any fundamentalist”

“Hm that’s a good point, let me think for a bit
Oh wait, my mistake, it’s absolute bullshit.
Science adjusts it’s beliefs based on what’s observed
Faith is the denial of observation so that Belief can be preserved.
If you show me
That, say, homeopathy works,
Then I will change my mind
I’ll spin on a fucking dime
I’ll be embarrassed as hell,
But I will run through the streets yelling
It’s a miracle! Take physics and bin it!
Water has memory!
And while it’s memory of a long lost drop of onion juice is Infinite
It somehow forgets all the poo it’s had in it!

You show me that it works and how it works
And when I’ve recovered from the shock
I will take a compass and carve Fancy That on the side of my cock.”

Everyones just staring at me now,
But I’m pretty pissed and I’ve dug this far down,
So I figure, in for penny, in for a pound:

“Life is full of mystery, yeah
But there are answers out there
And they won’t be found
By people sitting around
Looking serious
And saying isn’t life mysterious?
Let’s sit here and hope
Let’s call up the fucking Pope
Let’s go watch Oprah
Interview Deepak Chopra

If you’re going to watch tele, you should watch Scooby Doo.
That show was so cool
because every time there’s a church with a ghoul
Or a ghost in a school
They looked beneath the mask and what was inside?
The fucking janitor or the dude who runs the waterslide.
Throughout history
Every mystery
Ever solved has turned out to be
Not Magic.

Does the idea that there might be truth
Frighten you?
Does the idea that one afternoon
On Wiki-fucking-pedia might enlighten you
Frighten you?
Does the notion that there may not be a supernatural
So blow your hippy noodle
That you would rather just stand in the fog
Of your inability to Google?

Isn’t this enough?

Just this world?

Just this beautiful, complex
Wonderfully unfathomable, NATURAL world?
How does it so fail to hold our attention
That we have to diminish it with the invention
Of cheap, man-made Myths and Monsters?
If you’re so into Shakespeare
Lend me your ear:
“To gild refined gold, to paint the lily,
To throw perfume on the violet… is just fucking silly”
Or something like that.
Or what about Satchmo?!
I see trees of Green,
Red roses too,
And fine, if you wish to
Glorify Krishna and Vishnu
In a post-colonial, condescending
Bottled-up and labeled kind of way
Then whatever, that’s ok.
But here’s what gives me a hard-on:
I am a tiny, insignificant, ignorant lump of carbon.
I have one life, and it is short
And unimportant…
But thanks to recent scientific advances
I get to live twice as long 
As my great great great great uncleses and auntses.
Twice as long to live this life of mine
Twice as long to love this wife of mine
Twice as many years of friends and wine
Of sharing curries and getting shitty
With good-looking hippies
With fairies on their spines
And butterflies on their titties.

And if perchance I have offended
Think but this and all is mended:
We’d as well be 10 minutes back in time,
For all the chance you’ll change your mind.

Parkour


Tempest Freerunning Academy from The Cool Hunter on Vimeo.


Vídeo promocional da Tempest Freerunning Academy, na Califórnia. A academia tem um trajeto especial baseado no jogo Super Mário. Foda.

domingo, 3 de abril de 2011

Partir, andar

“Esse é que é o problema todo. Não se pode achar nunca um lugar quieto e gostoso, porque não existe nenhum. A gente pode pensar que existe, mas, quando se chega lá e está completamente distraído, alguém entra escondido e escreve ‘Foda-se’ bem na cara da gente.”, Houlden Caulfield, em o Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger.



Todas as etapas da minha vida tiveram prazo de validade. Momentos de intensa felicidade desfizeram-se aos poucos, até sobrar apenas uma vontade gigantesca de simplesmente ir embora. E com isso vem sempre uma sensação de partida, que fico adiando todos os dias – e todos os dias objetos cotidianos vão adquirindo uma aura de lembrança ou até mesmo de nostalgia. É assim; sempre.

Esse período de desligamento é o mais tortuoso. Constatar a cada dia que o que o atraía agora lhe é indiferente, que os pequenos detalhes que deixavam o ambiente acolhedor agora adquiriram um tom destoante e agressivo. E, ao perceber isso, o esforço para simplesmente ignorar os sinais e evitar antecipar a partida é desgastante. Não pelo simples medo do que está ao além do girar a maçaneta da porta, mas por saber o que deixo ao fechá-la.

Não, eu gostaria de conseguir ficar, envelhecer entre essas mesas, sabendo exatamente o que esperar e quando. Sentir o prazer de passar por caminhos tão conhecidos – e, principalmente, absorver a segurança de repassar sobre meus passos nessas trilhas de conforto. Admito minha culpa nesse processo, mas também sei que escreveram “foda-se” demais nas minhas paredes.

Recordo da primeira vez que fui obrigado a deixar tudo e recomeçar. Ainda na escola, quando percebi que todo o resto passava e eu permanecia. Logo as amizades – eternas – perderam a importância, deixando no lugar apenas a vontade de encontrar um novo lugar em que eu pudesse reviver nossos melhores momentos – mesmo que com outros protagonistas. E fui. E passei a sempre ir.

E toda vez em que chego a um novo lugar, espero finalmente ter alcançado o ponto final – para logo depois descobrir que ainda falta mais um trecho do caminho a percorrer. Não há nada a se fazer a não ser recolher os cacos e pegar a estrada. Não existe o glamour hollywoodiano em partir. Nem um pôr do sol no final da estrada, tampouco a trilha de rock no conversível. Há sim, e muitas, incertezas. Nada que com duas ou três doses não se possa enfrentar – ou esquecer.

Talvez a pior coisa de ser um nômade seja a vontade de finalmente encontrar algo que lhe faça ficar. Uma âncora que te mantenha preso em um porto qualquer, apenas observando o que vai em mar aberto, em segurança. Enquanto ainda não encontro algo assim, mantenho as velas cheias e sigo meu caminho.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Genial!


Escape Machines - Surprise from The Cool Hunter on Vimeo.

O pé rachado e a terra vermelha

Passado: Antiga Igreja em frente à rodoviária
 
Eu estava sentado no alpendre com um cigarro entre os dedos e observando o jardim. Minha avó regava pacientemente as plantas no meio da terra vermelha – dosando a água a ser despejada, analisando clinicamente as cores, retirando com cuidado a erva daninha entrincheirada entre a roseira e o pé de jabuticaba. Meu avô chegou manso pelas minhas costas. O canivete trabalhando hábil o fumo de rolo.

“Voltou?”, perguntei sabendo de antemão a resposta. “O médico não aconselha, mas velhos hábitos não acabam de uma hora para outra”, respondeu com pesar na voz. “Faz bem. Não se trabalha uma vida inteira para abdicar dos prazeres no fim da vida”, disse enquanto me entregava ao meu próprio vício. Não precisávamos de conversas profundas. O velho estava morrendo e eu acreditava piamente na inutilidade de conselhos vazios.

Ele sentou-se ao meu lado e repetiu as velhas piadas de minha infância. Afagou minhas memórias e depois foi embora, caminhando pelas ruas esburacadas. Foi quando lembrei do tempo em que, mais tarde, quando o sol estivesse a pico, eu e os primos sairíamos em seu encalço, levando nas mãos a marmita com o almoço. E, chegando na pequena rodoviária, ficaríamos vigiando a banca de frutas enquanto o avô comia.

Ainda antes de nos retirarmos para brincar, o velho fomentava em pequenas lições o nosso gosto pela labuta. Descascava laranjas e as ajeitava em sacos, entregando para cada um dos netos a sua cota de trabalho. E logo nos enfurnávamos nos ônibus e entre os passageiros que aguardavam nos bancos a sua vez de pegar a estrada. No final, o dinheiro era dividido junto com meia dúzia de conselhos – e então partíamos em disparada rumo à mercearia para adoçar o resto da tarde.

Naquele tempo as marcas em seu rosto ainda não eram tão acentuadas e nada era tão importante para os primos do que simplesmente ter tempo para sentar e comer na casa de meus avós. Não resta mais tanto tempo. Nem para nós, nem para eles. E nem mesmo o velório do velho, tanto anos depois, foi capaz de nos reunir mais uma vez em torno da velha mesa. Não há culpados, compreendo. Eu, que muitas outras vezes falhei na responsabilidade de mais velho, não tive nada a dizer.

Agora volto a observar o trabalho artesanal no jardim. A terra tingindo de rubro o calcanhar gasto de minha avó. As mãos trêmulas deitando fora os espinhos com a tesoura. O sol castigando a pele enrugada pelo tempo – o que me faz pensar no quanto ainda resta. Eu não era a melhor influência e sabia disso. Não tinha a prudência na palavra e tampouco acreditava em mudanças de última hora. É fácil optar por esse caminho quando ainda se tem a vida pela frente, outra coisa é seguir por essa trilha quando só lhe restam um bocado memórias.

Luzine, Luzine

Todas as noites o mesmo percurso. Todas as semanas uma nova armadilha. Dirijo tranqüilamente pela Explanada dos Ministérios e logo após entrar em um dos incontáveis viadutos da capital federal chego ao ponto de emboscada: dúzias de outdoors com modelos extraindo em poses instantâneas o mais sacana dos sorrisos.

O impacto é brutal. Basta olhar para o lado e notar os homens atônitos e as mulheres em desespero. No meio de tamanho furor sexista, me pergunto apenas como estará o marido, namorado ou amante da modelo ao notar que a mulher com quem divide a cama é, para o resto da cidade, um objeto de desejo de dez metros de altura.

"É apenas um anúncio", lamento engrenando a primeira. "É apenas um anúncio", defendem-se as outras dezenas de motoristas para as namoradas neuróticas. "É apenas um anúncio", argumenta uma das protagonistas para um companheiro menos compreensível. "Não faz sentido preocupar-se com uma propaganda" - concordamos solidários inconscientemente. "Ou não", reflito de segunda.

Penso nisso enquanto observo todos os motoristas disparando pela pista, de volta para a velha função de provedores. Para o apartamento alugado, para a sessão da Tela Quente e para a comida congelada. Não, o outdoor é uma porta de saída do nosso mundo medíocre para algo maior. Para aventuras românticas em Paris, para a paquera ardente na academia, para a surpreendente lingerie da vizinha recatada.

Pouco importa que seja publicidade, que esse paraíso fotográfico esteja atrelado a compra de uma calça de duzentos reais, ou em refrigerantes de baixo teor calórico. Nós queremos mesmo é a deusa sorridente e convidativa do comercial. E se o preço dessa proximidade fajuta for um perfume de trezentos contos, não falta quem passe o cheque. Eu sei, a modelo sabe e até mesmo o seu marido, namorado ou amante tem conhecimento.

O que mantém a sanidade dessas relações é que sem o jogo de luz dos expositores, toda magia vira o mais chocho fogo de palha. Estivesse a referida modelo tomando ki-suco, de sandália de tira, no boteco do Carlão, a imensa maioria dos homens boquiabertos no sinal não dariam a mínima. É demasiado terreno para nossas fantasias sexuais. Não valeria o suor depositado no carnê das Casas Bahia.

O marido, namorado ou amante da modelo sabe disso. Assim como tantos, ele nota o burburinho diante da sua amada ampliada cinco, dez vezes. Ele desfruta da ambigüidade do ciúme e do orgulho da própria masculinidade. E, no fundo, ele rumina o único segredo que o distingue dos tantos outros homens naquele momento. Ele sabe que, no fundo, a modelo tem frieira no pé.