“Esse é que é o problema todo. Não se pode achar nunca um lugar quieto e gostoso, porque não existe nenhum. A gente pode pensar que existe, mas, quando se chega lá e está completamente distraído, alguém entra escondido e escreve ‘Foda-se’ bem na cara da gente.”, Houlden Caulfield, em o Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger.
Todas as etapas da minha vida tiveram prazo de validade. Momentos de intensa felicidade desfizeram-se aos poucos, até sobrar apenas uma vontade gigantesca de simplesmente ir embora. E com isso vem sempre uma sensação de partida, que fico adiando todos os dias – e todos os dias objetos cotidianos vão adquirindo uma aura de lembrança ou até mesmo de nostalgia. É assim; sempre.
Esse período de desligamento é o mais tortuoso. Constatar a cada dia que o que o atraía agora lhe é indiferente, que os pequenos detalhes que deixavam o ambiente acolhedor agora adquiriram um tom destoante e agressivo. E, ao perceber isso, o esforço para simplesmente ignorar os sinais e evitar antecipar a partida é desgastante. Não pelo simples medo do que está ao além do girar a maçaneta da porta, mas por saber o que deixo ao fechá-la.
Não, eu gostaria de conseguir ficar, envelhecer entre essas mesas, sabendo exatamente o que esperar e quando. Sentir o prazer de passar por caminhos tão conhecidos – e, principalmente, absorver a segurança de repassar sobre meus passos nessas trilhas de conforto. Admito minha culpa nesse processo, mas também sei que escreveram “foda-se” demais nas minhas paredes.
Recordo da primeira vez que fui obrigado a deixar tudo e recomeçar. Ainda na escola, quando percebi que todo o resto passava e eu permanecia. Logo as amizades – eternas – perderam a importância, deixando no lugar apenas a vontade de encontrar um novo lugar em que eu pudesse reviver nossos melhores momentos – mesmo que com outros protagonistas. E fui. E passei a sempre ir.
E toda vez em que chego a um novo lugar, espero finalmente ter alcançado o ponto final – para logo depois descobrir que ainda falta mais um trecho do caminho a percorrer. Não há nada a se fazer a não ser recolher os cacos e pegar a estrada. Não existe o glamour hollywoodiano em partir. Nem um pôr do sol no final da estrada, tampouco a trilha de rock no conversível. Há sim, e muitas, incertezas. Nada que com duas ou três doses não se possa enfrentar – ou esquecer.
Talvez a pior coisa de ser um nômade seja a vontade de finalmente encontrar algo que lhe faça ficar. Uma âncora que te mantenha preso em um porto qualquer, apenas observando o que vai em mar aberto, em segurança. Enquanto ainda não encontro algo assim, mantenho as velas cheias e sigo meu caminho.
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