Todas as noites o mesmo percurso. Todas as semanas uma nova armadilha. Dirijo tranqüilamente pela Explanada dos Ministérios e logo após entrar em um dos incontáveis viadutos da capital federal chego ao ponto de emboscada: dúzias de outdoors com modelos extraindo em poses instantâneas o mais sacana dos sorrisos.
O impacto é brutal. Basta olhar para o lado e notar os homens atônitos e as mulheres em desespero. No meio de tamanho furor sexista, me pergunto apenas como estará o marido, namorado ou amante da modelo ao notar que a mulher com quem divide a cama é, para o resto da cidade, um objeto de desejo de dez metros de altura.
"É apenas um anúncio", lamento engrenando a primeira. "É apenas um anúncio", defendem-se as outras dezenas de motoristas para as namoradas neuróticas. "É apenas um anúncio", argumenta uma das protagonistas para um companheiro menos compreensível. "Não faz sentido preocupar-se com uma propaganda" - concordamos solidários inconscientemente. "Ou não", reflito de segunda.
Penso nisso enquanto observo todos os motoristas disparando pela pista, de volta para a velha função de provedores. Para o apartamento alugado, para a sessão da Tela Quente e para a comida congelada. Não, o outdoor é uma porta de saída do nosso mundo medíocre para algo maior. Para aventuras românticas em Paris, para a paquera ardente na academia, para a surpreendente lingerie da vizinha recatada.
Pouco importa que seja publicidade, que esse paraíso fotográfico esteja atrelado a compra de uma calça de duzentos reais, ou em refrigerantes de baixo teor calórico. Nós queremos mesmo é a deusa sorridente e convidativa do comercial. E se o preço dessa proximidade fajuta for um perfume de trezentos contos, não falta quem passe o cheque. Eu sei, a modelo sabe e até mesmo o seu marido, namorado ou amante tem conhecimento.
O que mantém a sanidade dessas relações é que sem o jogo de luz dos expositores, toda magia vira o mais chocho fogo de palha. Estivesse a referida modelo tomando ki-suco, de sandália de tira, no boteco do Carlão, a imensa maioria dos homens boquiabertos no sinal não dariam a mínima. É demasiado terreno para nossas fantasias sexuais. Não valeria o suor depositado no carnê das Casas Bahia.
O marido, namorado ou amante da modelo sabe disso. Assim como tantos, ele nota o burburinho diante da sua amada ampliada cinco, dez vezes. Ele desfruta da ambigüidade do ciúme e do orgulho da própria masculinidade. E, no fundo, ele rumina o único segredo que o distingue dos tantos outros homens naquele momento. Ele sabe que, no fundo, a modelo tem frieira no pé.
O impacto é brutal. Basta olhar para o lado e notar os homens atônitos e as mulheres em desespero. No meio de tamanho furor sexista, me pergunto apenas como estará o marido, namorado ou amante da modelo ao notar que a mulher com quem divide a cama é, para o resto da cidade, um objeto de desejo de dez metros de altura.
"É apenas um anúncio", lamento engrenando a primeira. "É apenas um anúncio", defendem-se as outras dezenas de motoristas para as namoradas neuróticas. "É apenas um anúncio", argumenta uma das protagonistas para um companheiro menos compreensível. "Não faz sentido preocupar-se com uma propaganda" - concordamos solidários inconscientemente. "Ou não", reflito de segunda.
Penso nisso enquanto observo todos os motoristas disparando pela pista, de volta para a velha função de provedores. Para o apartamento alugado, para a sessão da Tela Quente e para a comida congelada. Não, o outdoor é uma porta de saída do nosso mundo medíocre para algo maior. Para aventuras românticas em Paris, para a paquera ardente na academia, para a surpreendente lingerie da vizinha recatada.
Pouco importa que seja publicidade, que esse paraíso fotográfico esteja atrelado a compra de uma calça de duzentos reais, ou em refrigerantes de baixo teor calórico. Nós queremos mesmo é a deusa sorridente e convidativa do comercial. E se o preço dessa proximidade fajuta for um perfume de trezentos contos, não falta quem passe o cheque. Eu sei, a modelo sabe e até mesmo o seu marido, namorado ou amante tem conhecimento.
O que mantém a sanidade dessas relações é que sem o jogo de luz dos expositores, toda magia vira o mais chocho fogo de palha. Estivesse a referida modelo tomando ki-suco, de sandália de tira, no boteco do Carlão, a imensa maioria dos homens boquiabertos no sinal não dariam a mínima. É demasiado terreno para nossas fantasias sexuais. Não valeria o suor depositado no carnê das Casas Bahia.
O marido, namorado ou amante da modelo sabe disso. Assim como tantos, ele nota o burburinho diante da sua amada ampliada cinco, dez vezes. Ele desfruta da ambigüidade do ciúme e do orgulho da própria masculinidade. E, no fundo, ele rumina o único segredo que o distingue dos tantos outros homens naquele momento. Ele sabe que, no fundo, a modelo tem frieira no pé.
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